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quarta-feira, novembro 20, 2024

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Romance de Xangô, é enredo Carnaval

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Inspirado no romance do poeta açoriano, Vitorino Nemésio, a GRES Unidos da Ponte, de  São João de Meriti-RJ, resgata um dos mais belos poemas inspirados na Cultura Afro Brasileira: O Romance de Xangô.

O poema integra o volume  “9 Romances da Bahia (1952)”,  onde  Vitorino, ao visitar um Terreiro de Candomblé em dia de festa para Xangô, se encanta por Dazinha, em seu ritual para se tornar mãe de santo.

O Enredo, retrata a cena pelo olhar do poeta: “No ar, inundando o olfato, pairam o cheiro do cravo e da canela, especiarias que trazem riqueza; nos enfeites, enchendo os olhos, aparecem desde o verde de Oxóssi ao liláz e branco de Nanã; nos sons dos tambores Rum, Rúmpi e Lé, preenchendo os ouvidos, temos o anúncio de que por toda a noite teremos candomblé.”

Assim, temos que Vitorino reproduz em forma de poema,  o Candomblé de uma maneira original: Não com olhos de estrangeiro a enxergar apenas o lado exótico, ou mesmo com olhos de brasileiro a enxergar no sagrado de origem africana, mera manifestação folclórica do sincretismo afro-brasileiro; na verdade, o poema expressa uma homenagem ao Brasil original, com sua riqueza cultural que mistura, a tradição das reuniões com danças e músicas dos terreiros de Candomblé que de certo modo, deram origem as nossas maravilhosas rodas de samba!

Romance de Xangô, a dança do fogo,  descreve de maneira poética e inebriante o encanto de Vitorino pela dança em homenagem a Xangô, Orixá da força e da benevolência.

Assim, de forma poética, os olhos de  Vitorino pairam sobre  a magnífica Dázinha, e o poeta faz questão de   exaltar a força e o encanto de sua beleza negra:

“Dázinha – É negra. Seu rosto duro/ Parece o duplo machado…
Seu cabelo vira arame/De que tira os braceletes/Para dançar a Xangô…”

“…Dança – e parece voar!/Pavlova, com véus e dedos,
Mais fundo não dançaria…”

O encanto que Dázinha exerce sobre o poeta, lembra o encanto que todos nós apaixonados pelo samba, sentimos quando nos deparamos com a beleza, a leveza e a força das passistas que inebriam olhares nas quadras e passarelas do samba. O poeta ,  de maneira pura,  faz questão de esclarecer que tal manifestação de apreço, não tem qualquer conotação erótica. Aliás,  exalta a pureza dos gestos no verso que diz:

Não é coisa do outro mundo/Nem convite ao mestiçar:
É o “ritual muito limpo”,(Diz Pessoa) do deitar…

E então, passando o caçoilo/ Alta, nutrida de lume,
Dàzinha vem me abraçar.
Passa-me os braços nas costas/Tremenda, digna e direita;
Duas vezes seu pescoço/Toca o meu, pra mo sagrar,
Como quando à noite deita/O seu minino a ninar:
E lá vai, mais pura ainda/Arder, arder e dançar…”

O poema, lindo, puro e repleto de admiração,   revela o esforço singular deste poeta, em compreender a cultura e a religiosidade brasileira tão presentes no Samba, ao mesmo tempo que manifesta-se como um apelo para não desvirtuação destes ritos.

Neste mês de junho em que ocorrem pelo país muitos festejos em honra a São João Batista e São Pedro, que para algumas vertentes,  também sincretizam Xangô, abrimos espaço para parabenizar a Unidos da Ponte pela brilhante escolha de tão valoroso enredo que representa uma das mais fascinantes manifestações  de consideração  pela beleza e encanto da nossa cultura afro-brasileira, representada de forma admirável na pessoa de Dázinha, uma mulher negra, pura e bela, como devem ser as passistas do samba, as quais merecem todo nosso respeito e admiração.

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