O cantor e compositor Paulinho da Viola, que em novembro comemora seus 80 anos de vida, é muito mais do que autor de sambas memoráveis, como “Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida” e “Coração Leviano”.
Sua obra tem belíssimos choros e valsas, que, injustamente, não são tão conhecidos como os sambas.
O flautista, saxofonista, compositor e pesquisador Mário Sève apresentará o show “Paulinho da Viola 80 anos: Choros e Valsas”, mostrando essa faceta de chorão de Paulinho – cujo pai, César Faria, era integrante do Conjunto Época de Ouro, criado pelo mestre Jacob do Bandolim.
O show reúne um grupo de instrumentistas identificados com o gênero no dia 16 de novembro, na Sala Mário Tavares do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em duas sessões: às 17h e às 19h. E o melhor: a preços populares – R $5,00 e R $10,00.
Com direção geral de José Schiller, o espetáculo lançará o álbum “Ouvindo Paulinho da Viola”, de Mário Sève, com choros e valsas do homenageado.
A direção musical do show está a cargo do próprio Sève (sopros e arranjos) – que, além de parceiro de Paulinho, integra seu grupo há 25 anos.
No palco, estarão com ele outros músicos que também acompanham Paulinho da Viola – Adriano Souza (piano), Dininho (baixo) e Celsinho Silva (pandeiro) –, além de craques como Kiko Horta (acordeon), Jorge Filho (cavaquinho) e Luiz Otávio Braga (violão).
O repertório do show traz peças de Paulinho, entre conhecidas – como “Sarau para Radamés” – e inéditas (entre elas, “Carinhosa”, parceria dele com Mário Sève, disponível nas plataformas de streaming), e de suas principais referências, como seu pai, Pixinguinha, Canhoto da Paraíba e Jacob do Bandolim.
Legítimo herdeiro desses mestres chorões, assim como de Radamés Gnattali, Paulinho da Viola já revelou: “o choro é o gênero musical que mais me comove”.
Seus choros e suas valsas dão sentido a essa afirmação, sendo ele aclamado como um dos principais compositores e intérpretes contemporâneos desses gêneros. Vale lembrar que, em 1976, após sua atuação diante dos clubes de choro pelo Brasil e da montagem do seu antológico espetáculo carioca “Sarau”, que marcou o ressurgimento do Conjunto Época de Ouro, Paulinho da Viola lançou um LP que revolucionou a história do choro: “Memórias chorando”.
Fotos: Marcos Monteiro
Sobre Paulinho da Viola
Nascido em 12 de novembro de 1942, no bairro carioca de Botafogo, Paulo César Baptista de Faria viveu a infância e a juventude apreciando apresentações de músicos de choro e seresteiros em encontros musicais promovidos ora em sua própria casa, ora na casa do virtuoso Jacob do Bandolim, a quem seu pai, o grande violonista César Faria, acompanhava sistematicamente ao violão.
Passou a estar próximo não só de Jacob, mas de uma infinidade de outros grandes instrumentistas e compositores, como Pixinguinha, Radamés Gnattali, Altamiro Carrilho, Dino Sete Cordas e Canhoto da Paraíba.
Também participava, desde cedo, de blocos e agremiações carnavalescas. A partir de meados dos anos 1960, passou a atuar como violonista no Zicartola, famoso ponto de encontro de artistas e intelectuais, e a frequentar a quadra da Portela.
Recebeu o nome artístico de Paulinho da Viola e tornou-se amigo de Hermínio Bello de Carvalho, Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Kétti, Clementina de Jesus e, posteriormente, integrante da ilustre ala dos compositores portelenses, chegando a vencer o Carnaval de 1967 com seu samba-enredo “Memórias de um sargento de milícias”.
Na mesma época, frequentou o Teatro Jovem e morou na pensão Santa Teresinha (conhecida como Solar da Fossa), convivendo com diferentes profissionais da área cultural, entre músicos, atores, diretores de teatro e TV, escritores e poetas. Após atuar no espetáculo “Rosa de ouro”, participou dos festivais de música televisivos com obras que se tornaram grandes sucessos, como “Sinal Fechado” e “Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida”. Batizou e uniu para a gravação de um disco o lendário grupo Velha Guarda da Portela, que passou a participar de seus shows e registros fonográficos.
Com seu cavaquinho, seu violão e sua aveludada voz, Paulinho construiu uma das discografias mais íntegras no cenário da música brasileira, mesclando novas e antigas ideias, em obras suas e de outros compositores, a partir dos universos aos quais foi sempre relacionado, o samba e o choro. Após ter gravado as instrumentais “Abraçando Chico Soares” e “Choro Negro” em seus primeiros álbuns de carreira, ter dirigido, com o jornalista Sérgio Cabral, o espetáculo Sarau, de seu grupo com o Época de Ouro, e participado do movimento de criação dos chamados clubes de choro, Paulinho virou um dos pivôs na revitalização do gênero por uma nova geração hoje atuante.