Noel Rosa foi um gênio da música, um letrista, um boêmio incorrigível. Dizem que era mulherengo, dizem que guardava certa timidez e até trauma por causa da deformação de seu queixo. Dizem que era debochado, gozador. Mas todos concordam: era inconfundível e incomparável quando se tratava de fazer e cantar samba.
Vinte e sei anos. Este foi o tempo de sua vida. Duzentos e cinqüenta e nove. Este foi o número de canções que ele escreveu em apenas sete anos, todas muito boas e pelo menos metade consagradas como obras-primas.
Autodidata, Noel aprendeu a tocar bandolim de ouvido pelos bares da Vila Isabel e tomou gosto pela música. No ano de 1930, quando a canção popular começou a se firmar e o samba passou a definir a linhagem autêntica como raiz própria e brasileira, Noel Rosa ganhou destaque e preferência entre os ouvintes de rádio e participantes dos carnavais de rua do Rio de Janeiro. Sua música conquistava a todos pela autenticidade: falava de amor, de encontros desencontros, do cotidiano.
Cantava a vida, às vezes com ternura infinita, às vezes com uma alta dose de ironia. Seus sambas por vezes eram capazes de concentrar toda uma reflexão sobre o Brasil contemporâneo com o toque apimentado do seu humor sarcástico bem como emocionar a muitos ao falar do seu imenso amor pelas mulheres. Assim, Noel Rosa, tornou-se célebre por fazer a união do samba do morro com o do asfalto, principalmente por meio do rádio. Na Vila foi músico e poeta. Para ela, escreveu quatro belos sambas.
Noel dividia a vida entre o samba, os bares e o curso de medicina. Porém após o sucesso de “Com que Roupa” a medicina ficou de lado: o Samba e bares tomaram conta da sua vida. Aliás, como tantas outras canções dizem que “Com que Roupa” é uma canção autobiográfica: a mãe de Noel, temendo pela saúde frágil do filho, escondia suas roupas para que ele não saísse à noite.
Gostava de compor com parceiros em especial Ismael Silva e Vadico. Mas fez muitos sambas na solidão da madrugada, numa mesa de bar, sempre com um cigarro a mão ou à boca. Sentava ali, tomava a sua cerveja e escrevia. Esta imagem do Noel boêmio e gênio, foi imortalizada no Rio de Janeiro, em 1996, no bairro onde nasceu, cresceu e morreu, a Vila Isabel: na entrada da mais famosa rua da Vila, a charmosa “Boulevard 28 de setembro”, uma estátua em tamanho real fundida em bronze, eterniza a imagem do eterno Noel Rosa. A cadeira vazia, convida o visitante a sentar-se ao lado do gênio e apreciar a bela “Conversa de Botequim”, uma das canções que compôs com Vadico. A fisionomia do Garçon que lhe serve, lembra o pai de Noel Rosa.
As noites de boemia, foram demais para os fracos pulmões de Noel, como temia sua mãe. Noel Rosa tinha Tuberculose e morreu na noite de terça-feira, 04 de maio de 1937, em casa na Rua Theodoro da Silva 382 de um Colapso Cardíaco segundo noticiado nos jornais da época.
A sua morte foi prematura, mas a sua obra é eterna. Poderia ter vivido mais tempo se tivesse ouvido os conselhos de sua mãe. Mas amava demais a vida para deixar-se prender em uma cama ainda que isso lhe rendesse mais alguns anos neste mundo. Então escolheu viver intensamente por vinte seis anos que lhes tornaram imortal escrevendo eternamente seu nome na história cultural do Brasil.