O Jongo é uma das mais originais expressões da herança cultural africana que remetem aos habitantes do vasto território do antigo Reino do Congo introduzida no Brasil pelos escravos.
Mais que uma simples dança, integra a percussão de tambores, a umbigada, a prática de magia, o respeito aos ancestrais, permeando caminhos entre o sagrado e o profano.
Chegando ao Brasil-Colônia, os negros de origem Bantu escravizados nas fazendas de café do Vale do Paraíba no interior do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, tinham no Jongo uma forma de acalmar a revolta e o sofrimento: Os donos das isoladas fazendas de café, permitiam que os seus escravos dançassem o Jongo ou Caxambu como era conhecido, nos dias dos santos católicos, um dos únicos momentos permitidos de trocas e confraternização.
Os jongueiros eram verdadeiros poetas-feiticeiros, que se desafiavam nas rodas de Jongo para disputar sabedoria: A linguagem metafórica cifrada, exigia muita experiência para decifrar seus significados, por isso, só os mais velhos podiam entrar na roda. Aos jovens era dado observar, pois, o ensinamento dos segredos das “Mirongas” e dos fundamentos dos seus pontos, eram rígidos e exigiam muita dedicação e respeito.
Era um ritual fascinante: Formada a roda, com o poder das palavras e uma forte concentração, um jongueiro buscava encantar o outro por meio da poesia do ponto de Jongo. Aquele que recebia um ponto enigmático, tinha que decifrá-lo na hora e respondê-lo (“desatar o ponto”). Segundo a tradição, o jongueiro que não conseguisse decifrar o enigma, ficava enfeitiçado, “amarrado” e poderia desmaiar, perder a voz, se perder na mata, ou até morrer instantaneamente!
Este tom místico deu ao Jongo a característica de dança dos ancestrais, dos pretos-velhos escravos, do povo do cativeiro, pertence à “linha das almas”: Dizem que quem tem a “vista forte” é capaz de enxergar um antigo jongueiro falecido se aproximar da roda, para relembrar o tempo em que dançava o “caxambu”. Entre outras histórias em torno do Jongo, conta-se também que alguns jongueiros, à meia-noite, plantavam no terreiro uma muda de bananeira que, durante a madrugada, crescia e dava frutos distribuídos para os presentes.
Crenças a parte, fato é que o grande fruto do jongo, sem dúvida, foi o Samba! Com seus tambores artesanais feitos de tronco e pele de animal afinados a fogo, o Jongo era o ritmo mais tocado no alto das primeiras favelas. Nas casas dos antigos sambistas e compositores de respeito da velha guarda das escolas de samba, haviam sempre rodas de Jongo. Do ritual de encanto entre jongueiros por meio de poesia de improviso a ser decifrada, surgiram os famosos versos de partido-alto e do samba de terreiro, que devem ser inventados na hora pelo improvisador e respondido pelo desafiante, uma herança clara das Rodas de Jongo.
Com a morte de antigos jongueiros, este ritmo tão importante, foi aos poucos desaparecendo. Porém, no Rio de Janeiro, o Morro da Serrinha em Madureira, foi um dos responsáveis por manter viva a cultura do Jongo: O espírito festivo dos moradores do local e a consciência da importância de se preservar a cultura negra, foram fundamentais para a preservação das raízes culturais do Jongo: As ladainhas, os blocos de carnaval, os pastoris, as casas de umbanda, o samba de partido-alto, o Calango e o Jongo da Serrinha ficaram famosos, atraindo a visita de intelectuais, políticos e artistas do outro lado da cidade para suas rodas de samba, festejos, umbandas e candomblés.
Na década de 60, a Vovó Maria Joana Rezadeira, preocupada em manter viva a cultura do Jongo, conversou com seu filho, o Mestre Darcy Monteiro e convidaram antigas jongueiras (Vovó Teresa, Djanira, Tia Maria da Grota e Tia Eulália), para formar o grupo artístico Jongo da Serrinha quebrando o tabu que impedia as crianças de participarem do Jongo. Em novembro de 2002, o Grupo Cultural Jongo da Serrinha juntamente com a Associação da Comunidade Negra de Remanescentes de Quilombo da Fazenda São José, enviaram ao então Sr Ministro da Cultura Gilberto Gil, uma carta acompanha de dossiê com vasta pesquisa reunindo milhares de assinaturas, que pediam o reconhecimento do Jongo como patrimônio imaterial brasileiro.
Em 2005, segundo o parecer do Antropólogo do IPHAN, Marcus Vinícius Carvalho Garcia, “Por sua representatividade enquanto ícone de resistência cultural afro-brasileira na região sudeste; Por representar referência cultural remanescente do legado dos povos africanos de língua banto escravizados no Brasil; e Por tudo o mais demonstrado no processo analisado” o Jongo finalmente foi reconhecido como patrimônio imaterial do Brasil, tendo sido estabelecido ainda, em 2011 no Rio de Janeiro, o dia 26 de julho, como Dia do Jongo!
Uma das mais antigas e mais importantes jongueiras do país, foi a Tia Maria do Jongo da Serrinha. Já falecida, ela cedeu a sua casa no Morro da Serrinha para que crianças e adultos da comunidade, possam fazer rodas de Jongo e outras celebrações, mantendo viva e perpetuando a cultura do Jongo no Brasil.
Pesquisa e texto: Redação Sambando.com
Vamos fazer contato e ver o que podemos fortalecer o nosso Jongo ( Pai do Samba )
Sou, JC.’.
Temos estamos em uma web radio sintonia cultural( temos muito interesse em divulgar essa noss cultura do Jongo.
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