O bairro do Estácio de Sá é indiscutivelmente o berço do samba carioca.
Os botequins na esquina da Rua Maia Lacerda, perto da Praça Onze e da Zona do Mangue, atraíam malandros de todas as partes do Rio, alguns deles excelentes sambistas. Vinha gente de Benfica, Madureira, Providência e Gamboa.
Ali era cenário para o meretrício e para as rodas de carteado. Essa vida noturna intensa garantiu ao Estácio a aura de Berço do Samba carioca – aquele que conhecemos até hoje, dolente, pausado e marcado por instrumentos de percussão.
Assim, considerado como o centro da grande “malandragem” do principio do século, o bairro do Estácio foi passagem de todos os grandes sambistas que surgiram no Rio de Janeiro.
Foi ali que surgiu a “Deixa Falar”, considerada a Primeira Escola de Samba do Brasil, criada por uma turma de bambas como Ismael Silva, Bide, Marçal, Baiaco, Brancura e Mano Edgar. Eles costumavam se reunir na subida do Morro de São Carlos, no Estácio.
Como nas imediações funcionava uma Escola Normal, que formava professores para a rede escolar, Ismael Silva resolveu batizar seu grupo de Escola de Samba, já que formaria professores de samba.
Segundo o IPHAN, sua fundação foi oficializada no dia 12 de agosto de 1928.
A Deixa Falar desfilou na Praça Onze nos carnavais de 1929, 1930 e 1931.
Naquela época, quem saía dentro da corda mesmo eram o baliza Gaguinho, a porta-estandarte Caboquinha, o Chico Macaú que encourava barricas de vinho para a bateria reforçada do Bloco da Carestia, em cuja casa havia Umbanda, Congo e Caxambu e a gente que vinha dos trabalhadores do cais, operários, artesãos, gráficos e ambulantes aos quais se juntavam malandros, cafetões e boêmios em geral.
Entre as cabrochas estavam: Anastácia do Nino, Celeste, Rosália, Odetinha, Agripina, Julieta, senhoras de respeito que faziam o coro de canto ou a fila de baianas. Entre os malandros batuqueiros, Bujú Velho, Gaguinho, Paulo Grande, Dadá Mulato, Alemãozinho, Neca Bonito e o maior malandro de todos os tempos do Estácio, Nino da Anastácia. Tinha ainda os mais esquecidos, os importantíssimos homens da corda como Jorge Burundú (da “Cada Ano Sai Melhor”), João Pimentão (da “Paraíso das Morenas”), e o Milú (da “Recreio de São Carlos”), gente que fazia questão de se expor, brigar, sofrer e carregar aquela estiva toda, ida e volta.
A Deixa Falar não chegou a participar do primeiro concurso das Escolas de Samba do Rio, organizado em 1932 pelo Jornal Mundo Sportivo pois, preferiu passar para a categoria de rancho carnavalesco. Mas mesmo assim era referência para o surgimento das outras Escolas.
Após a “Deixa Falar” surgiram várias agremiações no bairro do Estácio como “Cada Ano Sae Melhor”, “Sem Você Eu Vivo”, “Vê Se Pode” que se transformou na “Recreio de São Carlos”, “Paraíso do Grotão” e “Boi Azul”.
Em 27 de fevereiro de 1955 surgiu a “Unidos de São Carlos”, criada a partir da fusão das escolas “Cada Ano Sae Melhor”, “Paraíso das Morenas” e “Recreio de São Carlos”.
Em 1983, a “Unidos de São Carlos” passou a se chamar Estácio de Sá. A troca no nome era para adequar a escola à sua comunidade, que já contava na época, com integrantes e simpatizantes que iam além das fronteiras do Morro de São Carlos.
Em sua nova fase, a Estácio de Sá, já no desfile principal, tomou características de uma escola leve, descontraída e irreverente, mas nunca emplacando uma posição de grande destaque – no máximo, o quarto lugar com a primeira versão de “O tititi do sapoti”.
Mas, em 1992, veio a surpresa que ninguém esperava: Quando todos davam como certo o título para a bicampeã Mocidade, o Leão corre por fora e abocanha o título, com o enredo “Paulicéia Desvairada, 70 anos de Modernismo no Brasil“. Este é o único campeonato da Estácio de Sá no Grupo Especial.
Em 1997, sofreu um baque e retornou ao Grupo de Acesso A, onde permaneceu por nove anos. Chegou a ir para a terceira divisão do samba, o Grupo de Acesso B, em 2005. Sua retomada ascendente, campeã dos Grupos de Acesso em 2005 e 2006 culminou em seu retorno à elite do samba.
No Carnaval 2007 a escola reeditou no Grupo Especial o inesquecível enredo “Tititi do Sapoti”. Mas infelizmente após um desfile que sacudiu a Marquês de Sapucaí, a Estácio de Sá retornou ao Grupo de Acesso.
Em 2016, ano do centenário do Samba, novamente a Estácio de Sá emocionou o público com um desfile dedicado a seu santo Padroeiro: São Jorge. As alegorias estavam deslumbrantes, os carros traziam não apenas o vermelho e branco da escola mas, o próprio São Jorge em diversas versões. Foi lindo, emocionou a platéia mas, para os jurados, a beleza da escola, a emoção da comunidade e do público, não foram suficientes para assegurar à Estácio de Sá um lugar Grupo Especial.
Embora tenha retornado ao Grupo de Acesso, a Estácio ocupa lugar de destaque não só no Carnaval Carioca, mas na própria história do Samba Brasileiro e da cidade do Rio de Janeiro.