A 2.700km de distância de redutos de samba no Rio de Janeiro, existe um lugar que por coincidência também se chama Urca onde encontramos um personagem especial: Um químico que se apaixonou por uma professora de matemática e resolveu largar tudo para viver um sonho: Embriagar-se de cultura e saborear uma boa cachaça em harmonia com a natureza, curtindo a brisa do mar calmo e de águas mornas, do vilarejo a beira do mar.
O casal então montou um espaço próximo a praia onde os visitantes se embriagam da cachaça artesanal produzida pelo químico Edson, num pequeno alambique, enquanto saboreiam pequenas ou grandes doses de cultura, do riquíssimo museu particular de Edson, o Ministro da Cachaça.
Ao desembarcar neste pedacinho de paraíso perdido do imenso Brasil, tivemos uma gratificante e emocionante surpresa: Edson preserva um dos mais impressionantes acervos culturais de samba do Brasil: Nos deparamos com uma raríssima coleção de vinis de Zé Keti, Sinhô, Wilson Batista, Pixinguinha, o primeiro samba “Pelo Telefone”, em perfeita qualidade! A surpresa torna-se ainda maior quando temos o prazer de escutá-los em uma das velhas radiolas dos anos 50, que Edson conserva e mais ainda ao saber como ele conseguiu tal coleção:
“Veio para mim 40 quilos de discos do Rio de janeiro, doados por uma médica. O pai dela era maestro e depois de sua morte ela reuniu todos os discos onde tinha a participação do pai para vender mas, como ofereceram um valor muitíssimo baixo e aquela coleção tinha um valor sentimental para ela, quis que eles ficassem com alguém que fosse cuidar bem. Então ela veio aqui de passagem, me contou e dias depois me enviou 40 quilos de discos. Quando recebi, percebi que eram obras raríssimas e guardei ali na minha coleção… Outros discos encontrei em uma Vila de Pescadores num velho baú: iam jogar fora pois não tinha serventia e, quando fui ver eram vinis inclusive do Primeiro Samba “Pelo Telefone”… “
Entre a degustação de uma e outra cachaça artesanal, Edson vai abrindo o baú dos seus “Tesouros Escondidos”, e nos contando histórias de “piratas” ou mesmo “mercadores” que tentam levar o seu tesouro: “Certa vez recebi aqui um cidadão da capital Natal, que quis comprar essa minha coleção. Ele viu os discos e me perguntou: “Você vende?” _”Não, eu não vendo.” Ele insistia em querer comprar e me fez uma proposta afirmando que eram discos velhos e que ele queria porque colecionava. Ofereceu-me um valor tão baixo, mas tão baixo, que eu fiquei chateado, não pelo valor, mas pelo desrespeito que ele teve comigo achando que eu talvez fosse um “alienado” culturalmente falando.Resolvi dar uma lição e lhe disse: “Eu faço um preço bom para você, já que pelo que você me ofereceu, não está numa situação financeira muito boa.Então, pra te ajudar, eu lhe vendo cada disco, a dez centavos. Mas, serão 10 centavos ao dia contados da época de publicação da obra. A obra mais nova que tenho aqui, foi publicada em 1979!”
Eu daria, de graça para ele os discos que me pediu, ou ainda daria de graça a coleção toda se ele tivesse demonstrado respeito e sinais de que iria cuidar bem deles e dividi-los com os outros sem cobrar nada, como eu faço aqui…”
A dedicação de Edson a seu “tesouro” realmente, mostra que o samba não tem fronteiras, e é com certeza uma das maiores paixões dos brasileiros, e por isso merece o título de patrimônio imaterial do Brasil.