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quarta-feira, novembro 20, 2024

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Subindo o Morro

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No alto do morro, um som inconfundível. Uma roda que se forma, um batuque de improviso que aos poucos vai juntando gente, abrindo a roda e de repente, está formado um verdadeiro show de talentos!

Quando olhamos para uma favela, seja ela onde for, no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, às vezes, a primeira coisa que vem à nossa mente, de maneira involuntária, é a ideia que as pessoas ali vivem tristes, passam necessidade e não tem outra alternativa. O emaranhado de fios, as casas e barracos construídos uns sobre outros, passam a impressão de uma vida infeliz e sem perspectivas. Puro engano. A felicidade de muitos que moram no morro, o talento que se esconde nas suas vielas e escadarias, é surpreendente.

Foi no morro que o samba surgiu, cresceu e se criou. Foi do Morro que vieram os mais ilustres sambistas do passado e é de lá que vem surgindo talentos grandiosos a cada dia.

O grande Cartola, vivia em um barraco no Morro da Mangueira, quando escreveu seu primeiro samba. Nascido no Catete, Cartola passou a sua infância nas Laranjeiras mas, foi no Morro da Mangueira que ele renasceu, como um dos maiores sambistas de todos os tempos, um ícone da música brasileira que até hoje recebe aplausos por sua obra inesquecível. E, era para o Morro da Mangueira que Nelson Cavaquinho, que morava na Gávea, se dirigia em suas rondas noturnas como Policial Militar, para compor sambas ao lado de Cartola e Carlos Cachaça.

O Morro parece ser um lugar místico, que atrai, impressiona e leva ao sucesso. Sambistas que não nasceram no morro, mas que cantaram sambas em sua homenagem, tornaram-se imortais. Zé Keti, que morava em Bangu, só viu sua carreira deslanchar depois de compor “A Voz do Morro”, sucesso interpretado a mais de cinqüenta anos por grandes sambistas, e que até hoje desperta emoção no público amante do samba.

Bezerra da Silva, o malandro carioca, pediu em suas canções o respeito as vozes do morro, ao povo que com criatividade, talento e garra, batalha dia-a-dia por vida melhor, e segue sorrindo, cheio de graça.

Leandro Sapucahy, que morava em Jacarepaguá, ganhou destaque e reconhecimento nacional, ao cantar as várias fases do Morro: dos conflitos, perspectivas, frustrações às alegrias e belezas das favelas do Rio de Janeiro. Seu grande sucesso “Miss Favela”, elogiando a beleza das mulheres do morro, levou Sapucahy ao reconhecimento nacional, assim como o trabalho “Soldado do Samba”, que trás, ao som do ritmo oficial do Brasil, letras que refletem a realidade das favelas cariocas: os amores, encontros, desencontros que fazem do morro um lugar cheio de vida.

Seguindo o mesmo caminho, o Grupo “Bom Gosto” que também saiu de Jacarepaguá para conquistar o Brasil, cantando “Patricinha do Olho Azul”, a história de amor entre um músico batalhador do Morro e uma garota da zona sul, que deixa o conforto do bairro nobre, para morar no morro, mostra que a favela, com suas vielas e arquitetura incomum, é um lugar fascinante onde também se pode construir uma história de vida.

Subindo o morro, percebemos que ali todos são ricos! De talento, de alegria, de criatividade e que, na favela não tem espaço para pobreza de espírito.

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