O desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro é sem dúvida o maior espetáculo da terra.
Após a primeira noite cheia de homenagens, protestos e referência a Bahia e cultura nordestina, a segunda noite chegou cheia de magia e celebração.
A Paraíso do Tuiuti já chegou chegando, com uma comissão de frente que contava a história da chegada do Búfalo na Ilha de Marajó no Pará.
A perfeição da execução com figuras da índia rendeu a escola o Prêmio Estandarte de Ouro no quesito “Comissão de frente”.
A Bateria afinadíssima, assim como o samba enredo muito bem executados também levaram o prêmio. E por falar e Bateria, o que foi a performance de Mayara Lima? Ela que já vinha causando nos ensaios, deu show ao transformar o seu corpo na vibração do tambor, a frente da Bateria Estandarte de Ouro.
Celebrando o seu centenário a maior campeã do Carnaval carioca, a Portela, também entrou na avenida dando show de inovação com o baile dos Drones que desenharam no céu a Águia, símbolo da Escola, acompanhado do nome Portela e seus homenageados.
A Escola veio exuberante com a justa homenagens aos seus títulos e principais personagens da sua história desde o grande Paulo da Portela que trouxe para o carnaval, para o samba e para a vida, a ideia de agrupar as pessoas como um grupo organizado para mudar comportamentos e valores.
O figurino lindíssimo e elegante como o fundador prezava, estava em todas as alas.
Muita gente chorando na avenida enquanto a comissão de frente encenava lindamente a mágica do barracão, o coletivo que é a escola de Samba, e a fundação da escola e o nascimento da Águia que abre as asas e alça voo na avenida sob a benção da Imaculada Conceição.
A Águia veio dourada e azul com uma coroa na sua cabeça, representando a Majestade do Samba.
Outro destaque foi a Bateria que trouxe não apenas uma, mas as cinco rainhas que passaram pela escola.
Muito encanto, muita emoção no Desfile da Portela, apesar de dois carros terem enguiçado na avenida e deixado buracos, a Escola fez um desfile maravilhoso. Só por completar 100 anos na avenida, contribuindo significativamente para a cultura brasileira, a Portela certamente já merece o título de Campeã.
A Vila Isabel, sob o comando de Paulo Barros resolveu falar de fé e cultura de vários países numa verdadeira aula de história e curiosidades na avenida, o que sempre torna o desfile das escolas de samba, um evento que ultrapassa os limites de simples festejo de carnaval. O retorno ao Egito, a Mesopotâmia veio forte percorrendo os caminhos da fé e da cultura mundial até chegar ao maior espetáculo da terra que é o nosso carnaval.
O carro abre-alas com o culto a Baco, Deus do Vinho trazia uma piscina de vilho que tombava de um lado para o outro na avenida e encantou a torcida.
Com uma estética leve e vazada, mas cheia de glamour a Vila Isabel fez a sua viagem com destaque para a perfeição da ala das passistas que levou o estandarte de ouro.
A Imperatriz volta para o nordeste levando a riquíssima cultura do sertão nordestino, mais precisamente na literatura de cordel tendo como foco a história do sertanejo e seus personagens incluindo Lampeão que busca chegar ao céu durante o desfile. Grandes obras da literatura foram inceridas no desfile como o mestre Ariano Suassuna.
A ala das baianas vestidas de Maria Bonita veio lindíssima e a escola desfilou beleza, luxo, com enredo digno de Estandarte de Ouro.
Chegou a hora da Beija-Flor de Nilópolis. Antes da escola entrar na avenida, um susto: um dos carros alegóricos pegou fogo ainda na concentração, que foi rapidamente controlado. Passado o susto a Escola entrou deslumbrante pela Sapucaí, num desfile que beirou a perfeição, garantindo a Beija-Flor o Estandarte de Ouro de melhor escola do Carnaval 2023.
Não era para menos: com um enredo emblemático sobre o povo brasileiro a Beija-flor leva para a avenida nossa Brava Gente que grita contra toda forma de opressão, usando a independência da Bahia para levar a sua mensagem de respeito, igualdade tão essenciais para uma sociedade mais justa e que pode ser conquistada de maneira coletiva. Para levar o samba enredo, Neguinho da Beija-Flor, ganha a companhia de Ludmilla que deu show.
Assim como a Unidos da Tijuca, a Comissão de Frente também apagou as luzes da Sapucaí para destacar a apresentação teatral. Ficou bonito.
A alegoria em referência ao movimento abolicionista trouxe a ideia de resistência com a negritude triunfante mostrando a força do coletivo, com uma mulher grávida alada gigante como sinal de esperança, e também uma passita grávida a sua frente, renovando a ideia de que o futuro pode ser realmente de liberdade plena para o nosso povo negro. Mensagem extremamente importante. A nova rainha de Bateria, Lorena Raíssa, embora ainda menina, mostrou que que é uma gigante, com muito samba no pé para representar a sua comunidade.
A última escola a desfilar foi a exuberante Viradouro que levou para avenida outra personagem histórica e muito importante, uma verdadeira heroína que está fora dos nossos livros de história infelizmente: Rosa Maria Egipcíaca ou Rosa Courana quer foi a primeira mulher negra a escrever um Livro no nosso país. Isso, infelizmente a gente não aprende na Escola.
Contando a história da escrava que lutou pela liberdade do seu povo, da sua fé, da sua dignidade, considerada Santa do Povo. A Escola também apagou as luzes da Sapucaí para destacar a beleza da comissão de frente, como Rosa Maria Egipcíaca representava com muita maestria pela dançarina Laís Ribeiro que fez um espetáculo a parte. A frente do símbolo da escola a pequena Gabi Reis encantou a Sapucaí num tripé com efeito fantástico de água.
E com uso da água, a Viradouro veio cheia de efeitos especiais, movimento e beleza para avenida, com um dos mais belos sambas enredos do carnaval 2023.