“Eu abro a nossa gira Com Deus e Nossa Senhora
Eu abro a nossa gira Sambolê pemba de angola…”
Era para ser apenas mais um integrante da comissão técnica do Vasco, que facilmente poderia passar desapercebido como muitos.
Mas, não ele.
Negro, umbandista e um apaixonado pelo Vasco, Eduardo Santana chegou ao Clube, para ser mais um emblemático personagem do Vasco da Gama que tem a mais bela história do futebol brasileiro, e que vai além das quatro linhas.
O nome de batismo (Eduardo), ficou apenas nos registros: para todos ela era o Pai Santana!
O místico massagista ganhou notoriedade por levar para o Clube, toda a sua religiosidade e fé:
Além de atuar no cuidado da saúde muscular dos jogadores, ele também era o grande intercessor do Vasco junto as forças espirituais superiores.
Assim, fazia suas “rezas” e rituais nos vestiários, no entorno do campo de futebol e invocava os orixás de sua fé de matriz africana, para abençoar o time e vencer os inimigos.
No Vasco, não há espaço para preconceito, nem de cor, e muito menos de fé e logo sua atuação ganhou destaque.
Assim, Pai Santana tornou-se símbolo de respeito a diversidade religiosa, ídolo da torcida e personagem marcante na história Cruzmaltina.
Sua trajetória que se conecta com a caracteristica peculiar do time carioca de levantar sempre a bandeira do respeito e da igualdade, contra qualquer tipo de preconceito, Pai Santana vai receber uma merecida homenagem da União Cruzmaltina, escola de samba formada por torcedores do Vasco que desfila na série prata do carnaval do Rio de Janeiro:
Pai Santana será Enredo do Carnaval 2023
A energia do Pai Santana na preparação do carnaval 2023
Na quadra da escola, tudo remete a forma que Pai Santana se preparava para as partidas do Vasco da Gama:
Na sinopse já é possível sentir a energia do desfile:
“O terreiro está preparado! As folhas jogadas pelo chão, atabaques enfeitados, o defumador está espalhando sua energia pelo ar.
A direita uma fila de mulheres e a esquerda uma fila de homens, no meio as cambonas já preparadas para auxiliar, ao fundo no pepelê, ogãs se preparam para invocar as energias dos ancestrais.
Vai começar a gira, silêncio! Que é quebrado pela sineta nas mãos da sábia mãe de santo que anuncia que as energias estão prontas para “baixar”.
Envolvidos pela energia dos ancestrais te invocamos neste terreiro.
Venha Pai Santana, venha iluminar nossa torcida mais uma vez!
A magia está no rodar da entidade, na fumaça que sobe do charuto de exu:
É o Sr. Cruzeiro das Almas quem vem abrir a nossa gira, e no girar de sua capa, abre os caminhos e esconde em sua cartola os segredos do sobrenatural.”
A atmosfera que envolve a Escola de Samba, parece receber o próprio Pai Santa que saúda a todos:
“Boa noite minha querida falange Cruzmaltina, na força dos meus guias, com as bençãos dos Orixás. Cheguei! Fui convidado para contar minha história na avenida do samba.”
Um grito contra a intolerância religiosa
E em meio a esta energia espiritual tão forte, e tão característica do emblemático personagem, tem-se a necessária reflexão sobre o respeito a diversidade de fé, contra a intolerância sofrida pelas religiões brasileiras de matriz africana, que denota o próprio racismo que ainda subsiste até os dias atuais, e turva a visão da sociedade para enxergar a beleza e a positividade dos rituais da umbanda que expressam e enaltecem a sabedoria dos nossos ancestrais:
“Adorei as almas dos velhos pretos, donos da sabedoria, contadores de histórias que carregam a mandiga em seus anos já vividos. Pretos velhos quimbandeiros que abrem nossa roda para espalhar o conhecimento, na patuscada da bateria vão incorporar alegria e semear nos novos pretos a força adquirida na diáspora e os ensinamentos da vida.”
E com esta pegada forte, cheia de fé, de força e de luta contra a intelorência religosa, a Escola de Samba Cruzmaltina, ao homenager Pai Santana, invoca o Orixá da Justiça em favor da igualdade e contra o racismo:
“Kaô meu pai Xangô! Seu raio iluminou minha vida trazendo as glórias que todo preto sonhou. No fogo, lá no alto da pedreira, minhas heranças africanas se transformaram em um símbolo de luta pela aceitação de uma sociedade que refuta quem nasceu sem a cor do colonizador. A raça mais bela de todas, o negro da pele, preto de cor, a cor da raça e do amor que infelizmente carrega a dor.”
A exaltação dos negros esquecidos e da história do Vasco da Gama
Seguindo assim a “gira” por igualdade e justiça, a Escola de Samba remete a história dos negros que deram origem a nação brasileira, e a própria história do Vasco da Gama que deu voz e vez aos excluídos da sociedade:
“Com as falanges que criei e cuidei, seguem os caboclos, marinheiros, boiadeiros, baianos. No toque dos atabaques vejo as pombagiras e Zés dançando. Me lembro da Cabocla Jurema, filha de Tupinambá, com quem trabalhei na colina para defender o clube que apoiava minha pele, o primeiro a aceitar muito além de “camisas negras” e operários… Seu Pena branca me ajudou, foi seu compadre quem te chamou.”
Com um enredo tão cheio de significado e de energia, a Escola Cruzmaltina promete um grande desfile onde novamente contará com a ajuda e proteção de Pai Santana, que se fará presente:
Muito linda e importante a homenagem ao grande Pai Santana,eterno ídolo do Vasco da Gama.Celebra a magia e a encantaria do futebol e o carnaval,que sempre estão juntos.Parabéns União Cruz maltina.